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Aqui também nasceu Portugal

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Os concelhos dos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro foram importantes para a criação de Portugal. Muito do poder e da força de D. Afonso Henriques se fundamenta nestas terras.

O sucesso dos concelhos destes vales não se pode fazer apenas com indústria, turismo, gastronomia, vinho e belas paisagens. Também tem de passar pela sua história, embora muitas vezes não se lhe dê o devido valor, ao contrário de outros territórios.

Por exemplo, Guimarães, além de ser designada por “Cidade Berço”, tem inscrito numa das torres da antiga muralha o lema “Aqui nasceu Portugal”, pretendendo invocar a batalha de São Mamede, em 24 de junho de 1128, quando D. Afonso Henriques (c.1109-1185) derrotou as tropas fiéis à sua mãe, D. Teresa (c.1080-1130), assumindo as rédeas do Condado. Este é um exemplo de como os Vimaranenses sabem, com sucesso, recorrer à história para se valorizarem! 

A valorização da história de um território tem de passar pelas ações de quem nele vive. Devemos ser os principais interessados a querer que a nossa história seja conhecida. Não devemos estar à espera que as instituições locais e regionais façam esse trabalho. Todos nós devemos colaborar na transmissão do nosso passado para nos orgulharmos dele e esperar que quem nos visite reconheça a importância histórica do nosso território e dos nossos antecessores.

Assim, gostaria de expor, concisamente, a relevância dos concelhos banhados pelos rios Sousa, Tâmega e Douro para a criação do nosso país, porque Aqui também nasceu Portugal.

Afonso Henriques, por C. Legrand (1839). Fonte Biblioteca Nacional Digital.

Como sabemos, Afonso Henriques foi educado por Egas Moniz (c.1080-1146), da família dos de Ribadouro. A casa-mãe de Egas Moniz e da sua família foi o Mosteiro de Paço de Sousa, em Penafiel. Certamente, o jovem Afonso foi educado em terras do seu Aio e, assim, por aqui cresceu e conviveu. Afonso confiava em absoluto em Egas Moniz.

Exemplo dessa confiança é o episódio do cerco a Guimarães, em 1127, por Afonso VII de Leão (1105-1157). Egas Moniz foi o mediador entre D. Afonso Henriques e o seu primo para a resolução do conflito. Além de aio, Egas Moniz foi o fiel conselheiro do nosso primeiro rei.

A nobreza medieval portuguesa começou com cinco linhagens. Dessas cinco, três eram do nosso território: a dos de Ribadouro, já mencionada, a dos Sousas e a dos de Baião. Estas famílias ajudaram D. Afonso Henriques a tornar o Condado num reino independente. Sem o apoio destas famílias, D. Afonso Henriques estaria enfraquecido para concretizar esse sonho, que teve seu epílogo em 1179, com a Bula Manifestis Probatum. Aponto ações concretas dessa ajuda.

Bula Manifestis Probatum (1179) que declarou a independência portuguesa. Fonte DGARQ (2008).

Com a aproximação de D. Teresa aos nobres galegos, as famílias portucalenses, nas quais se incluem as três do nosso território, estiveram com D. Afonso Henriques no desejo de o Condado Portucalense não se unir à Galiza. E Egas Moniz de Ribadouro foi o líder do movimento. 

Aquando da batalha de São Mamede, os nobres do nosso território combateram ao lado de D. Afonso Henriques. Não foram apenas as famílias do vale do Ave, ou de outras terras, que estiveram no campo de batalha. Por exemplo, Soeiro Mendes de Sousa (c.1100-1137) foi uma das figuras preeminentes dessa batalha, o que já tinha sucedido no cerco a Guimarães, em 1127.

Estes exemplos provam que as terras dos vales do Sousa, Douro e Tâmega não ficaram à margem da criação de Portugal. Por estes motivos, procuremos conhecer e divulgar a nossa história.

Para melhor compreensão do tema, sugiro a leitura do livro Identificação de um País, de José Mattoso, publicado pela editora Temas e Debates, em 2015.

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