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Chupeta, qual, quando e porquê?

por Joana Dias
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Joana Dias
Terapeuta da Fala. Pós-graduada e especializada em Perturbações da Comunicação, Linguagem e Fala na região do Vale do Sousa. 

Muitos pais, recorrem ao uso da chupeta como meio facilitador, rápido e quase imediato para acalmar o choro do bebé. Embora a chupeta faça parte das necessidades reguladoras da criança durante os primeiros meses de vida, também pode trazer consequências negativas, quando o seu uso é prolongado ou inadequado. 

Qual chupeta escolher?
Caso opte por fazer uso da chupeta, deve escolher uma de silicone suave que crie a mesma sensação de mamilo natural. Esta sensação familiar ajuda no processo natural de engolir. Tenha em atenção a ponta da chupeta, que deve ser achatada. Acrescentando assim espaço ao céu da boca para que este não ganhe uma forma arqueada e consequentemente previna a má oclusão dentária. Preferia ainda chupetas que suportem a boca e o maxilar, dirigindo a pressão de sucção para o maxilar, facilitando uma respiração nasal e prevenindo assim problemas respiratórios, e consequentemente de sono e concentração.  

Uma vez escolhida a chupeta e ainda que seja a correta, é estritamente necessário tentar controlar o seu uso, e limita-lo o máximo possível. Tentar que seja apenas de uso nocturno e a sua retirada total seja feita por volta dos 2 anos , 2 anos e meio, em que as consequências (se existentes) ainda possam ser revertidas. 

É importante reforçar que nos primeiros quinze dias de vida do bebé não deve haver contacto com a chupeta, uma vez que, as estruturas da boca ainda se estão a adaptar ao bico do seio da mãe e a introdução da chupeta pode causar “confusão” no bebé e consequentemente levá-lo à rejeição da amamentação .

Porquê usar chupeta?
Desde sempre associamos o uso da chupeta ao bebé, isto porque a sucção é um reflexo inato e que está presente desde a vida intra-uterina. É através dela que a criança tem os primeiros contactos com o mundo exterior, satisfazendo, além da nutrição, as necessidades afetivas e prazerosas (sucção não nutritiva).
Importa salientar que os músculos envolvidos na sucção, são os mesmos futuramente usados para a fala e articulação de palavras. A sucção detém também a importante função de preparar os músculos para a fala.

Quando esta sucção é incorreta, pode acarretar problemas estruturais como:

  • Palato (céu da boca) em ogiva (alto e estreito);
  • Alterações na arcada dentária (mordida cruzada, mordida aberta, lábioversão (incisivos projetados para a frente); 
  • Lábio superior curto; 
  • Ausência de vedamento labial; 
  • Contração do mentoniano;
  • Língua hipotónica e mal posicionada; 
  • Bochechas hipotónicas; 
Estas alterações estruturais vão ter grande impacto no desenvolvimento das funções estomatognáticas como a respiração, mastigação e fala.

Na respiração, o uso da chupeta pode promover a substituição do padrão respiratório nasal (considerado fundamental) pelo oral (respiração pela boca). Uma vez respirador oral,  a língua deixa de assumir uma postura correta (curvada no céu da boca e com a ponta da língua a tocar na papila palatina), e passa a assumir uma posição mais inferior, sem exercer força e com pouca mobilidade, necessárias posteriormente para a articulação de sons. A par disto, ao respirar pela boca, o ar não sofre o processo de filtragem, aquecimento e humedecimento normais, deixando o sistema respiratório mais vulnerável a doenças e infeções. 
A mastigação assumirá características verticais e/ou unilaterais,  que irão influenciar diretamente as articulações temporomandibulares e o desenvolvimento das estruturas envolvidas. Para além disto, pode ainda desenvolver-se uma deglutição atípica, com interposição língua, uma vez que a arcada dentária também sofreu inúmeras alterações (mordida cruzada, mordida aberta, lábioversão…). 
A fala será das funções mais prejudicadas, uma vez que para funcionar corretamente, precisa que todos os orgão fonoarticulatorios, como lábios, língua, bochechas…estejam completamente funcionais, bem posicionados, com força e mobilidade adequadas. Caso isto não se verifique serão presenciadas várias imprecisões articulatórias.

Na maioria dos casos, estas alterações podem ser revertidas ou solucionadas com intervenção terapêutica em Terapia da Fala. 
O terapeuta da fala está apto para intervir em perturbações musculo-esqueléticas e interferências nas funções estomatognáticas. 
Neste casos a proposta de intervenção variará mediante a alteração apresentada pela criança, mas haverá sempre como objetivo primordial restabelecer as corretas funções estomatognáticas, tentando instaurar simultaneamente as estruturas e orgãos fonoarticulatórios envolvidos. Tornar-se-á importante restabelecer o correto padrão respiratório (caso se encontre alterado) e recompor a tonicidade de toda a musculatura envolvida, principalmente da língua, para que possa facilmente chegar a todos os pontos articulatórios necessários à correta produção de sons.

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