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Junho, mês da Afasia

por Joana Dias
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Joana Dias
Terapeuta da Fala. Pós-graduada e especializada em Perturbações da Comunicação, Linguagem e Fala na região do Vale do Sousa. 

No mundo, a cada segundo uma pessoa sofre um AVC ( Acidente Vascular Cerebral) e a cada 6 segundos o AVC é fatal para uma dessas pessoas. De acordo com a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, em Portugal o AVC continua a ser a maior causa de morte na população com menos de 65 anos. Além da mortalidade, o AVC é das perturbações que mais consequências deixa.

O AVC corresponde a uma condição clínica que provoca alterações em determinadas áreas e funções cerebrais, que dependendo da localização e extensão da lesão determinam a gravidade das perturbações deixadas. As sequelas mais frequentes verificam-se ao nível da força muscular e mobilidade do corpo, na coordenação e no equilíbrio, e ao nível da comunicação e interação social, afetando a linguagem, a fala, o funcionamento mental e a deglutição.
Na Terapia da Fala, deparamo-nos todos os dias com algumas destas perturbações sendo a Afasia, Disartria e Disfagia as mais frequentes.

A Afasia, em destaque no mês de junho para a sua consciencialização, é uma perturbação da linguagem resultante da lesão cerebral e caracteriza-se pela incapacidade total ou parcial de descodificar mensagens, sejam elas orais ou escritas e ao nível da compreensão e transmissão.  Esta consequência é predominantemente característica do hemisfério cerebral esquerdo, responsável pelas capacidades de falar, ler, escrever e compreender. Dependendo da gravidade a afasia subdivide-se em 8 tipos, sendo as componentes avaliadas a Nomeação, Compreensão, Fluência e Repetição que ditam a sua categorização e que devem ser devidamente avaliados por um Terapeuta da Fala

Uma vez estabelecido o diagnóstico e tendo em conta o prognóstico que pode variar mediante a etiologia, a idade do utente, a localização e extensão da lesão, a intervenção terapêutica deve iniciar-se o mais precocemente possível tentando minimizar os danos causados e as implicações resultantes.

Importa salientar, que a afasia não afeta a inteligência mas condiciona a compreensão e expressão oral. Sem uma comunicação funcional torna-se difícil continuar a participar ativamente sem algumas limitações, uma vez que atividades de vida diária, empregos, estabilidade emocional e conversas ficam comprometidas. Muitos dos utentes afásicos evitam falar com terceiros, perdem a autonomia e o isolamento social torna-se um escape, tendo em conta que a afasia é desconhecida para grande parte da sociedade e como tal implica ainda grandes barreiras na sua inclusão e participação social.

                     “Não conseguir falar é diferente de não ter nada para dizer!”

Tendo em conta estas dificuldades, nem sempre é fácil adaptar a nossa forma de falar a diferentes contextos e até mesmo a diferentes pessoas. A afasia requer alguns cuidados de comunicação para que possa ser funcional, compreendida e estabelecida entre todos os envolventes. Para que a mesma seja eficaz deve:

  • Ser paciente, dar tempo para a resposta e não terminar as suas frases; 
  • Falar diretamente com a pessoa e manter uma escuta ativa; 
  • Usar um tom de voz normal sem o elevar; 
  • Escolher um local calmo e sossegado para iniciar a conversa;
  • Fazer perguntas simples e diretas e dar opções de escolha  (sim/ não, frio/quente,…);
  • Usar sinónimos e reformular as frases;
  • Repetir sempre que necessário. 

O Terapeuta da Fala exerce aqui um papel fundamental na intervenção terapêutica do utente com afasia. Centra-se nos objetivos pessoais de interação social e nas atividades que a pessoa pretende voltar a participar. Promovendo mais interação, novas oportunidades de comunicação, estimulação linguística adequada, mais estratégias alternativas a uma comunicação funcional…  O Terapeuta está apto a intervir em todas as afasias desde as fases mais precoces e minimizar o impacto destas. 

Junto dos cuidadores o Terapeuta estabelece o plano de intervenção adequado ao utente e junto do mesmo estabelece metas, prioridades e objectivos que permitirão ao utente manter a sua qualidade de vida, a sua funcionalidade e uma comunicação funcional adequada às suas necessidades.

Diferentes tipos de afasia e diferentes tipos de utentes requerem diferentes tipos de intervenção, sendo que todas requerem uma avaliação cuidada e formal por parte do Terapeuta da Fala ficando de igual modo a intervenção terapêutica ao cuidado deste técnico.

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