
José Carlos Carvalheiras
Sociólogo, autor de várias obras sobre identidade cultural e memória coletiva, cronista, ensaísta, guionista de teatro e cinemaDesde que as sanções começaram a ser sucessivamente decretadas pelos países ocidentais, e seus aliados, contra a Rússia, questionei-me se essas medidas de bloqueio seriam realmente implementadas na sua plenitude desejável ou se as mercadorias e serviços iriam continuar a chegar a destinos russófonos.
Ora, o contrabando sem escrúpulos, do grande capital, está a alimentar a Rússia por trás da cortina. De acordo com fontes independentes, nomeadamente do canal alemão DW, o regime beligerante e facínora continua a receber, através da fronteira com a Georgia, por exemplo, mercadorias de todos os tipos, desde armamento, componentes eletrónicas, peças para aviões de guerra, etc.
Quando se trata do lucro, da avareza e da opulenta ganância do capital, não há moral, nem ética, nem sanções que impeçam as transações, o tráfico, o contrabando, independentemente de que seja o recetador. Quer-me parecer que até haverá ocidentais a comercializar chips e urânio para a Coreia do Norte.

A esta hora, com o suposto estrangulamento decretado periodicamente e de forma pomposa pelas potencias ocidentais, como a UE, o Reino Unido, o Canadá e os EUA, seria de esperar que a economia russa estivesse a passar muito mal. Mais digo, seria de esperar o caos económico-financeiro da grandiosa nação dos antigos czares. Mesmo que a China e a Índia procedam ao forte intercâmbio comercial com aquele regime, isso deveria ser insuficiente para manter uma grandiosa nação bastante ocidentalizada apesar da retórica ultranacionalista do fanfarrão que abana um braço ao caminhar (um tique adquirido na espionagem…), como se fosse um boneco mecânico com as pilhas a falhar.
A Rússia perdeu 1/3 da sua população masculina adulta, sobretudo quadros técnicos de nível intermédio e superior. Quando foi decretada a mobilização obrigatória de homens para a guerra criminosa na Ucrànica, deu-se um êxodo brutal, conforme mostraram as filas intermináveis nas fronteiras para países vizinhos. A produtividade dos serviços e das manufaturas foi severamente afetada. Antes disso já tinha acontecido um duro golpe no coração financeiro russo: a debandada das multinacionais cosmopolitas que floresciam e enriqueciam Moscovo e outras grandes cidades da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Não é suficiente para fazer o grande gigante bélico fazer mea culpa e retirar da Ucrânia, país que invadiu selvática e criminalmente. A propósito de crimes de guerra, tal como a ONU também o Tribunal Internacional me parece cada vez mais um círculo de puppets, um circo de tecnocratas inconsequentes.
Em suma, os lobbies capitalistas e sem escrúpulos, alguns deles com mais peso que muitos estados europeus, fazem vista grossa às sanções idealistas e formais da União Europeia. Bruxelas não sabe disso? Sabe, sabe. Eles sabem.