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Um território com uma Igreja mais próxima dos fiéis 

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Pode parecer uma ilusão, uma ideia louca, mas seria possível criar uma diocese no território do Tâmega e Sousa? A história diz-nos que sim e as características religiosas da região também.

Primeiramente, a declaração de interesses. Não tenho nada contra a diocese do Porto. Apoio, quase a cem por cento, as decisões e ações diocesanas. Aliás, fui membro do Conselho Pastoral Diocesano, entre 2007 e 2012. Sucede que todos nós devemos ter em atenção o potencial do nosso território nos mais variados níveis, incluindo o religioso, por vezes esquecido. Para este efeito, começo por recordar as duas dioceses que tiveram sede no nosso território.

Em 569, aquando do I Concílio de Lugo, a localidade de Magneto (atualmente Meinedo, em Lousada) foi elevada a diocese. Como na altura o território sob domínio de Braga era extenso, criou-se esta nova diocese. Diversos motivos, entre os quais políticos e religiosos, estiveram na base da sua criação. Há quem sugira que o local fora escolhido por estar afastado da orla marítima por razões de segurança e onde havia tradição religiosa e espiritual. O território desta diocese corresponderia, genericamente, ao do futuro bispado portuense, o que significa que o bispado de Meinedo (isto é, o nosso território) foi o berço da diocese do Porto.

Séculos mais tarde, por razões políticas, o Marquês de Pombal pretendeu afrontar o bispo do Porto, com o qual discordava, retirando-lhe uma parte da sua diocese. Assim, a 21 de junho de 1770, com a justificação da necessidade de desmembrar dioceses demasiado grandes que causavam prejuízo aos fiéis, o rei D. José I (1750-1777) decretou a criação da diocese de Penafiel. Este bispado foi constituído por 102 paróquias de nove concelhos. A Igreja da Misericórdia serviu de sé e o edifício onde atualmente existe a CESPU-IINFACTS era o paço episcopal. O bispado foi extinto em 7 de dezembro de 1778.

Nestes dois casos, a dimensão territorial foi um dos motivos para a criação das dioceses. 

Para quê ter dioceses extensas? Atualmente, a do Porto tem uma área de 3010 km2, engloba 26 concelhos, de três distritos (17 do Porto, oito de Aveiro e um de Braga), tem quatro regiões pastorais, 22 vigararias e 477 paróquias. A população da diocese é de cerca de dois milhões de habitantes, o que representa, aproximadamente, 19,30% da população portuguesa.

Se o nosso território tem potencial económico, social e turístico, também o tem a nível religioso. Este é uma das regiões onde se encontra mais enraizada a fé católica. Temos devoções, como a de São Gonçalo (Amarante) e a Santa Quitéria (Felgueiras), festas e romarias, como a de Santa Maria de Cárquere (Resende) e a da Senhora Aparecida (Lousada), que atraem devotos de todo o mundo. Temos santuários e colégios diocesanos, escolas e externatos católicos. Temos imenso património religioso, onde se inclui igrejas comparáveis a sés, como a da Misericórdia de Penafiel (que já funcionou como sé) e a de Santa Maria de Pombeiro (cujos monges beneditinos quiseram que se assemelhasse a uma sé). Muitos bispos e auxiliares da diocese do Porto são naturais do nosso território, o que significa que temos capacidade para formar religiosos de qualidade.

Não seria bom recuperar o nosso legado histórico para promover o potencial religioso da região e fazer uma força para, um dia, ser criada uma diocese no território do Tâmega e Sousa? “Descabido” ou “Sem sentido” dizem os estimados leitores. Eu respondo: observem a nossa história e recordem-se da máxima Não há duas sem três e da frase Nunca diga nunca! Seria mais um passo na afirmação do território e na direção ter uma Igreja ainda mais perto de todos nós.

Para melhor compreensão das origens do tema, sugiro a leitura do artigo “Sobre as origens da diocese do Porto na Alta Idade Média. Uma reflexão sobre o Parochiale Suevorum e a diocese de Magneto/Meinedo (sécs. VI-VII)”, de Francesco Renzi e de Andrea Marinai, publicado na revista Portvgalia, em 2020.

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