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 Técnicos Auxiliares de Saúde, faz sentido ser considerada profissão de desgaste rápido? 

por Adão Rocha
Adão Silva opinião Vale do Sousa TV
Adão Rocha
Técnico Auxiliar de Saúde, Licenciado em Gerontologia Social, formador e membro ativo na sociedade. Aprecia folclore, atletismo e caminhadas.

 As profissões de desgaste rápido surgem no Artigo 27º do Decreto-Lei n. º82-E/2014, no Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRS), que considera as profissões de desgaste rápido, as de praticantes desportivos profissionais, definidos como tal no competente diploma regulamentar, as de mineiros e as de pescadores, bem como Pilotos; controladores aéreos; trabalhadores da “call center”; Agentes de autoridade; profissional de bailado clássico ou contemporâneo; bordadeira da Madeira; trabalhador abrangido por acordos internacionais nos Açores; trabalhador na Empresa Nacional de Urânio; trabalhador do interior ou da lavra subterrânea das minas; trabalhador marítimo inscrito na marinha de comércio de longo curso, cabotagem e costeira e das pescas; trabalhador do sector portuário. 

Todas estas profissões descritas possuem regimes especiais de antecipação da idade de acesso à pensão de velhice, que tem uma influência intrínseca sobre a idade da reforma, tendo em conta que existe algumas diferenças ou exceções em algumas profissões aqui referidas, contudo, todas elas beneficiam de regimes especiais de acesso antecipado a reforma sem penalizações, ou com penalizações menos gravosas. 

Então urge a pergunta, onde ficam os profissionais de saúde? Em especial todos aqueles que trabalham diretamente com o utente, na sua condição mais aguda da doença, falamos das urgências, blocos operatórios, internamentos e Imagiologia, e também os do setor social, não terão eles também direito a ser considerados profissionais com um desgaste rápido? Para se entender esta opinião, ou pergunta, passarei e explicar toda a dinâmica de trabalho que estes profissionais estão sujeitos e o porquê de ser considerado de desgaste rápido. 

Irei me focar nos Técnicos Auxiliares de Saúde, pois é para estes profissionais que direciono este artigo, apesar de sabermos que outras categorias profissionais nestas esferas do cuidar, sofrem da mesma penosidade que a sua profissão requer. 

Quem são e o que fazem estes profissionais na sua atividade diária, para a justificação de ser considerada profissão de desgaste rápido

Os Técnicos Auxiliares de Saúde, os ainda chamados de Assistentes Operacionais, tem como funções específicas, o apoio aos demais profissionais superiores, quer na intervenção direta para com o utente/doente, bem como no que refere às questões logísticas de cada área de intervenção na mesma função de cuidados. 

Na realidade cabe a estes profissionais, muito além do que refere a parte logística, quer na reposição de matérias de apoio para prestar os cuidados necessários aos utentes/doentes, bem como a desinfeção de todas as áreas que dizem respeito ao doente, e em muitos casos até a limpeza de outras áreas que deveriam ser responsabilidade do setor da limpeza, evitando assim o risco maior das infeções, mas que derivado a uma grande irresponsabilidade de quem gere estas unidades, atribuem aos TAS mais estas funções. 

Contudo a sua função principal, é prestar um auxílio ao enfermeiro, nos cuidados diretos para com o utente/doente, que no panorama atual e das funções, direi quase administrativas que atribuíram aos enfermeiros, cabe ao profissional TAS, quase em exclusivo a prestação de cuidados de higiene, conforto, alimentação e eliminação para com os doentes. 

Aliado a tudo isto temos as patologias infeciosas, imensas vezes só somos informados que este ou aquele doente tem esta ou aquela infeção, que tanto se pode transmitir por via área como pelo contacto direto, quando o mesmo já está internado a alguns dias, estando o mesmo junto com outros doentes, e claro a ser cuidado por estes profissionais, é certo o protocolo nestas unidades deve ser seguido para qualquer doente, contudo muitas das vezes as pressões e as dinâmicas que estes serviços assim o exige, acabam por se descurar um pouco o mesmo. 

Em suma, estes profissionais, tem comos funções o cuidar das pessoas na verdadeira aceção da palavra, desde a higiene diária, no apoio ao levante dos doentes, em muitos casos, doentes com elevado peso, ajudar na sua alimentação/hidratação diária, nos cuidados de eliminação (por e retirar aparadeiras, mudar fraldas e proceder à correta eliminação/limpezas dos doentes, ou então se possível os levar ao wc). 

Tendo em conta as mudanças que se operam na sociedade portuguesa, em especial a longevidade que se alcançou, cada vez mais temos pessoas idosas nos internamentos, muitos de longa duração, associados aos mesmos, toda a problemática das demências, deveriam estes doentes ter um acompanhamento mais específico, o que de todo as nossas unidades hospitalares e mesmo as ERPI, não estão preparadas para tal, ficando ao encargo destes profissionais o lidar com estes utentes. 

Aliado a tudo isto, temos ainda as pressões a nível de chefias, que estas também pressionadas pelas administrações, (com poucas exceções à regra) que olham unicamente para os rácios e os gastos, intensificam sobre os profissionais a retórica da camisola, com cargas de horas em cima de horas, com turnos de 12/14/16 horas, noites em cima de noites, fins de semana praticamente metidos entre as paredes de uma enfermaria, quase como se fossem estes os utentes/doentes, em horários desfasados de toda a vida familiar. 

O certo é que, para estes profissionais não existe feriados nem festas religiosas, existe sim o horário mensal, e esse é que ditará a sorte de porventura poder passar o natal ou ano novo, ou então a pascoa em família, isto se cair em graça com o seu chefe de serviço, mas mesmo este também está limitado pela falta de efetivos, que possam assim aliviar, ou permitir o gozo de uma destas festividades em casa, já para não falar em férias, pois essas seguem uma ordem numérica que vai ditando em que altura do ano, possam gozar uns dias ao sol de verão. 

Em suma, estes profissionais que todos os dias lutam com o espetro da morte, que acompanham até ao ultimo suspiro de um vosso/nosso familiar, e mesmo assim deverá lhe prestar a homenagem como ser humano que é, onde as emoções ficam no limiar da nossa sanidade mental, pois assistir ao partir de um ser humano, que muitas das vezes se esvaem em sangue, ou bolçam pela boca aquilo que deveria sair por outro lado, é imensamente aterrador e de grande exigência emocional. 

Por tudo isto e muito mais que este artigo, por limite de palavras não me permite escrever mais, é que faz todo o sentido que estes profissionais, deveriam sim, ter uma profissão que seja considerada de desgaste rápido, com a agravante que não ganhamos milhões, nem tão pouco um salário digno pelo que damos à sociedade, meramente o salário mínimo nacional, e esse nem dignifica nem ajuda a fixar profissionais nesta digna “missão”. 

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1 comentário

Paulo Silva 19/09/2023 - 16:21

Existem muitas profissões que deveriam de ser consideradas de desgaste rápido., não só físico como psicológico! Pela perigosidade e risco de vida, e grande agressão física e psicológica. Eu trabalhei numa delas muitos anos…

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