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Abandono dos seniores nas instituições hospitalares, quais as verdades!

por Adão Rocha
Adão Rocha opinião Vale do Sousa TV
Adão Rocha
Técnico Auxiliar de Saúde, Licenciado em Gerontologia Social, formador e membro ativo na sociedade. Aprecia folclore, atletismo e caminhadas.

Muito se tem falado sobre este assunto, em especial nos últimos tempos, em que o tema da saúde tem sido o mote para imensas discussões, eventos e fóruns, passando por greves, recusas de horas extras além das legalmente obrigatórias, entre outras coisas mais.

O tema da saúde, muito caro aos portugueses, em especial, quando surge o espetro do término do Serviço Nacional de Saúde gratuito, tem trazido para primeiro plano, muitos temas e a necessidade de olhar para o mesmo com sentido critico, mas ao mesmo tempo com a frieza que alguns temas devem ser discutidos. 

Tem sido recorrente opiniões em forma de artigos, e alguns programas de televisão, sobre o abandono dos idosos nos hospitais, verdade é que, nunca tanto se falou deste tema, e da vergonha que todos nós deveríamos ter, por Portugal deixar ao abandono os seus idosos nas esferas hospitalares. 

Contudo e olhando friamente para esta problemática, temos em primeiro de tudo entender e perceber toda a questão demográfica que, está por detrás de quase todos os problemas que o SNS atravessa. 

Portugal vive em pleno século XXI o chamado inverno demográfico, segundo dados do INE, e de acordo com o último Census, na última década, o Índice de Envelhecimento registado em Portugal tem vindo a aumentar, refere que entre 2011 e 2021 verificou-se uma diminuição da população em todos os grupos etários, com exceção do grupo da população idosa que teve um crescimento de 20,6%.

Este acréscimo de população idosa, que em termos civilizacionais é um ganho extraordinário, derivado à evolução da medicina, das condições socioeconómicas que o país obteve após o 25 de abril, e à descoberta de novos medicamentos etc.   

Porém é necessário entender que o conceito familiar se vem alterando, na realidade não só o conceito familiar, na verdade o conceito social está totalmente alterado, pois cada vez mais a nossa vivência é numa lógica de sociedade, mas perdeu-se completamente o conceito de comunidade. 

As famílias que antigamente eram alargadas, que vivam em comunidade familiar, ou de vizinhança, que se entreajudavam a cuidar dos seus idosos, estão reduzidas a nucleares, um a dois filhos no máximo, essa mudança já se está a fazer sentir na nossa sociedade, mas irá trazer a longo prazo um problema ainda mais grave para as gerações dos anos 60, 70, os que agora começam a entrar na idade dourada, e que inverteram de uma forma acentuada a pirâmide etária. 

Essa mudança no conceito de cuidar dos familiares mais idosos, deve-se também ao facto da mulher ingressar no mundo do trabalho, pois ainda é sobre esta que, recai o ónus de cuidar dos mesmos, ter um emprego a tempo inteiro, aliado também ao facto de ter a sua própria família adensa ainda mais toda esta problemática de quem cuida dos nossos idosos. 

Desse modo é que não devemos levianamente tecer opiniões sobre este fenómeno do abandono, é certo que existe, e mais certo é que, em imensos casos existe esse abandono em muitas famílias de classe média alta, os Técnicos Auxiliares de Saúde, que todos os dias mais diretamente contactam com os idosos em ambiente hospitalar, conhecem bem essa realidade.

Contudo, devemos ressalvar que numa grande percentagem, esse abandono não é real, mas sim circunstancial, muitas das famílias, não tem condições nem físicas nem monetárias e muitas das vezes familiares que possam cuidar dos seus idosos, é fácil apontar e tecer considerações negativas, por vezes nefastas sobre esta temática, quando não nos calha a nós, é pródigo do ser humano acusar, sem primeiro conhecer as realidades de cada um. 

Na realidade, esta situação só tem relevo e direito a discussões nacionais, porque as mesmas se passam em ambiente hospitalar, e ocupam camas que deveriam estar direcionadas para os cuidados imediatos e urgentes, sendo um custo acrescido para o Serviço Nacional de Saúde, pois ninguém fala ou conhece a realidade mais grave do abandono dos idosos nos lares. 

Essa realidade é o verdadeiro abandono dos nossos idosos, pois quando os mesmos por variadíssimas razões são institucionalizados, passam por vários processos, do porquê, da negação, da revolta por fim da aceitação, mas mais drástico é a sensação de abandono que estes sentem, quando as visitas passam de uma vez por semana a uma vez por mês, depois de meio em meio ano, ou nas festividades mais importantes, por fim, simplesmente deixam de aparecer. 

Este abandono, é o mais nefasto para os nossos idosos, quase sempre traz repercussões mentais para os mesmos, tendo em conta que a maioria destas instituições não estão preparadas para essa realidade, nem formas de combater estas situações, pois o que lhes interessa é que as mensalidades continuem a serem pagas, o resto é só mais um idoso, que tem de ter os cuidados básicos que garanta a sua sobrevivência. 

É neste campo que os Técnicos Auxiliares de Saúde, podem e devem fazer a diferença, o cuidar com amor, com dedicação e com um sentido de humanização, é constituir um conceito familiar nas instituições para aqueles que o perderam, e mesmo para os que continuam a serem acarinhados pelos seus, pois quem dá amor, carinho e cuidados centrados na humanidade, transforma o ambiente nestas esferas do cuidar, num ambiente de união e de proteção. 

“O amor e a compaixão são necessidades, não luxos. Sem eles a Humanidade não pode sobreviver”. 

Dalai Lama 

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1 comentário

Margarida 18/10/2023 - 20:58

São os técnicos auxiliares de saúde que acompanham durante mais tempo os doentes já que estão sempre em contacto com eles. São confidentes e um grande suporte para a evolução destes doentes. Sou técnica auxiliar de saúde com muito orgulho.

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