Início » Quem corre por gosto não cansa

Quem corre por gosto não cansa

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Este texto é dedicado a todos e a todas que abraçam projetos culturais e patrimoniais, muitas vezes sem grandes apoios. Um desses exemplos é a AGELPA.

O provérbio Quem corre por gosto não cansa procura evidenciar que quem se encontra motivado para fazer algo, por gosto ou paixão, não se desgasta tanto com essa atividade, pois sente satisfação e realização no que está a fazer. A frase pode ser aplicada às diversas áreas relacionadas com o ser humano, como o desporto, o lazer, a ajuda ao próximo… 

O provérbio aplica-se, também, à cultura e ao património, em especial a todos e a todas que, individualmente, em grupos informais ou em entidades legalmente reconhecidas, abraçam projetos nessas áreas e põem mãos à obra para os concretizar e dinamizar.

Todos nós conhecemos inúmeros casos. Como é impossível identificá-los a todos, vou dar o exemplo de um projeto que me tem admirado em vários aspetos, como a coragem, a entreajuda e a resiliência na conservação e divulgação do nosso passado. 

A entidade é a AGELPA – Associação Guardiões do Engenho do Linho e do Património Histórico e Cultural de Alvator, situada em Alpendorada, no concelho de Marco de Canaveses.

Tudo começou há alguns anos, num grupo informal, com Fernando Costa, ao qual se juntou Serafim Oliveira e o senhor Veiga. Hoje a AGELPA é devidamente reconhecida e tem feito um trabalho meritório a favor do património, da cultura e da etnografia na Terra do Granito.

Bom exemplo do que têm feito foi o restauro de um engenho de linho que se encontrava abandonado. Com muita dedicação a favor desta causa, transformaram o engenho num espaço museológico, embora pequeno, dedicado à história deste e à produção de linho, divulgando e preservando as tradições para as gerações vindouras. 

É um espaço interessante para as crianças em idade escolar saberem como funcionava este tipo de engenho. Para todos nós, é um excelente local para recordar memórias e lembrar a necessidade de cuidarmos do nosso passado. Simultaneamente, promovem no Engenho do Linho e na sua envolvente diversas atividades culturais, artísticas e ambientais. 

Para a concretização deste objetivo, muito contribuiu o esforço das personalidades acima referidas. Também conseguiram alguns apoios, sobretudo da Junta de Freguesia de Alpendorada. Amigos e conhecidos têm igualmente apoiado e incentivado o projeto.

Contudo, tiveram, e têm, muitos “incentivos” negativos! Infelizmente, existem muitos pessimistas – ou o Velho do Restelo, como escreveu Camões – que consideram que “quem corre por gosto” fica cansado e, deste modo, não vale a pena este grupo de cidadãos se esforçar para preservar o passado que é de todos nós. Todavia, os membros da AGELPA são resilientes e têm mostrado que não estão cansados por muito que a “corrida” seja uma espécie de maratona. 

Como referiu Fernando Costa, um dos dirigentes da associação, “só temos cultura e seremos cultos quando lhe dermos o devido valor e a preservarmos. Aí conseguimos a nossa verdadeira identidade”. Tem toda a razão.

Se visitarem a página do Engenho do Linho no Facebook vão ficar com uma ideia mais esclarecida do trabalho que fazem e, certamente, que vão querer visitá-lo. 

Desejo à associação, aos seus membros e sócios que continuem a “correr por gosto” por esta causa.

Também poderá gostar de

Escrever um comentário