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Um amigo e um admirador de Camões 

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Com intuito de lembrar os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, destaco um seu amigo e um seu admirador incondicional, ambos da mesma família, de Felgueiras e da nossa sub-região.

Luís Vaz de Camões (1524-1580), o grande poeta nacional, teve ligações de amizade e literárias com personalidades que nasceram e/ou viveram em concelhos do Tâmega e Sousa. De entre essas, gostaria de destacar Estácio de Faria (séculos XV- XVI) e Manuel de Faria e Sousa (1590-1649).

Estácio de Faria começou a sua “carreira” ao serviço do Comendatário do Mosteiro de Pombeiro. Mais tarde, ingressou como militar na Armada do Reino, servindo na Índia. Esteve também no Brasil, onde desempenhou um cargo na administração da Fazenda. Esta entrega foi reconhecida com o título de Fidalgo da Casa Real. 

Também se dedicou à escrita, tendo deixado manuscritas várias obras em verso e em prosa. 

Foi, igualmente, amigo de Camões. A amizade ter-se-á iniciado em Lisboa, quando Estácio de Faria veio da Índia. Há quem sugira que esta personalidade é lembrada por Camões num dos seus sonetos (CXCII), no qual o poeta destaca as qualidades de Estácio de Faria como militar e como escritor. Citemos parte desse soneto:

Agora toma a espada, agora a pena,
Estacio nosso, em ambas celebrado,
Sendo, ou no salso mar de Marte amado,
Ou n’água doce amante da Camena. 

Estácio de Faria era avô materno de Manuel de Faria e Sousa, que nasceu no Couto de Pombeiro, em 18 de março de 1590. No Mosteiro de Pombeiro foi batizado e aprendeu as primeiras letras. 

Faria e Sousa foi um incansável homem de letras, muito devido à sua grande facilidade para a escrita e a uma fecunda imaginação, refletindo-se em vários géneros literários. Contudo, a sua maior atenção foi dada à história de Portugal, à poesia e aos comentários à obra de Camões. 

Nas suas obras, nota-se a intenção de notabilizar Portugal em tempos da União Ibérica, durante os quais o nosso país era governado pela Dinastia Filipina. Nesta sua vontade, evocou constantemente a figura e a obra de Luís de Camões. 

O contacto, indireto, de Faria e Sousa com Camões terá possivelmente começado na sua meninice, com o seu avô, já citado, devido à amizade deste com o grande poeta nacional.

Camões teve diversos admiradores, biógrafos e comentadores. Mas um dos mais incondicionais seguidores foi o escritor felgueirense. Tratava Camões por “Mi P.” [meu poeta].

Hélio Alves designou Faria e Sousa como o «mais influente e importante editor e comentador de Camões de todos os tempos». Esther de Lemos considerou-o o mais incondicional, o mais ferrenho e o mais fanático admirador de Camões.

Com base nestas ligações de vida e literárias, Felgueiras e a sub-região do Tâmega e Sousa têm motivos para comemorar Camões. Ou seja, não vale a pena “tapar o sol com a peneira”!

Como leitura, recomendo, desta vez, duas obras: Lusiadas de Luis de Camoens, príncipe de los poetas de España, de 1639, de Manuel de Faria e Sousa, sendo possível descarregá-la a partir da Internet; e Manuel de Faria e Sousa, cidadão do mundo e das letras ao serviço de Portugal, da minha autoria, cuja 2.ª edição, revista e atualizada, saiu em 2023, editada pelo CERT.

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