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Nicolau Coelho e a “invenção” de Portugal

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Partindo do exemplo do navegador Nicolau Coelho, pretendo evidenciar a importância do Tâmega e Sousa para a contínua “invenção” de Portugal nos Descobrimentos.

Na viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia, iniciada em 1497 e comandada por Vasco da Gama, o navegador Nicolau Coelho capitaneou a Bérrio, uma das três naus da expedição. Uma vez dobrado o Cabo da Boa Esperança, foi Nicolau Coelho na sua nau que sondou o canal de Moçambique. Depois, no regresso ao reino, uma violenta tempestade na zona de Cabo Verde dispersou a frota, perdendo-se o contacto entre os barcos. Encontrado o rumo, a Bérrio foi a primeira embarcação a chegar ao rio Tejo, e Nicolau Coelho foi quem informou o rei D. Manuel I do êxito da expedição, a 10 de julho de 1499.

No ano seguinte, e a capitanear a mesma nau, Nicolau Coelho acompanhou Pedro Álvares Cabral, que comandava uma frota de 13 naus, com destino a Calecut. Mas, acidentalmente, a expedição “descobriu” a Terra de Vera Cruz – o Brasil – a 22 de abril. Segundo reza a história, Nicolau Coelho foi o primeiro a pisar esta terra e a entrar em contacto com os nativos. Escrevi a palavra descobriu entre aspas porque há suspeitas que esta terra já seria conhecida: há quem argumente que, em dezembro de 1498, uma frota comandada por Duarte Pacheco Pereira atingiu o litoral brasileiro e chegou a explorá-lo, mas a expedição foi mantida em segredo. Há também quem defenda que esta terra foi descoberta em janeiro de 1500 pelo espanhol Vicente Yáñez Pinzón. 

Independentemente das teorias, há factos inegáveis: um dos primeiros portugueses a pisar terras brasileiras foi Nicolau Coelho, que também já tinha desempenhado papel relevante na descoberta do caminho marítimo para a Índia. Camões, no Canto IV (LXXXII) d´Os Lusíadas considera que foi umhomem “De trabalhos mui grande soffredor”.

Destaco este navegador porque sempre foi associado a Felgueiras, como sendo uma figura ilustre deste concelho. Aliás, durante décadas, na cidade de Margaride existiu um mural na Praça Vasco da Gama dedicado aos Descobrimentos e a Nicolau Coelho. Também nessa cidade, na Praça da Comunidade Lusíada, temos um monumento dedicado ao navegador. 

De registar que tenho dúvidas se Nicolau Coelho é natural de Felgueiras. É um facto que pertencia à família Coelho, cujo bastião foi a Casa de Sergude, em Sendim. Um tio seu foi donatário de Felgueiras. Agora, ter nascido e mesmo vivido neste concelho são outras conversas. 

Mas se esquecermos as minhas incertezas e partirmos do princípio de que Nicolau Coelho é um felgueirense “de gema”, como sugerem vários autores e investigadores, este é mais um motivo para nos orgulharmos deste concelho e da sub-região do Tâmega e Sousa que integra.

Deste modo, a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa (CIM-TS), que na frase publicitária “Onde se inventa um país, inventa-se o futuro” procura mostrar a relevância deste território para a fundação de Portugal, poderia ter ido mais longe, para o que se seguiu após a criação do reino, quando as gentes daqui ajudaram Portugal a dar novos mundos ao mundo. 

Na minha opinião, o nosso país só ficou verdadeiramente “inventado” com a epopeia dos Descobrimentos, porque se vincou a ideia de sermos um povo universal e que ajudou a abrir novos horizontes para o mundo conhecido e para o que se estava a descobrir.

Como leitura, recomendo a banda desenhada Nicolau Coelho, um capitão dos Descobrimentos, de José Ruy, da Editorial Notícias (1997), que conta a vida deste navegador, que pertencia à linhagem dos Coelhos, com origem na nossa sub-região. 

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