
José Carlos Carvalheiras
Sociólogo, autor de várias obras sobre identidade cultural e memória coletiva, cronista, ensaísta, guionista de teatro e cinemaComemorar Abril está na moda. Falar de Abril ainda mais. E isso é fácil. Basta ler. É sobre uma espécie de dicotomia entre «Falar de Abril» e «Fazer Abril» o que aqui se trata neste escrito de hoje.
Ora, pois é, comemorar, assinalar, recordar o 25 de Abril é um must ainda mais obrigatório por se tratar do cinquentenário da queda da outra senhora.
Um pouco por todo o lado vê-se e ouve-se Abril. Os programas municipais agigantam-se nas realizações, as instituições engalanadas vibram de cor e som, há caminhadas e pintura, discursos e escritos, publicações e mostras, exibições e concertos. Soltam-se vivas, exultam de alegria novos e velhos, meninos e meninas, senhores e senhoras.
Entretanto, os outros, que são cada vez mais, ficam de fora. Os apaniguados dum qualquer reviralho que germina numa crescente minoria (ainda). Esses outros estão à espera que esta onda passe, para arribar à luz.
Voltando à onda nacional. É uma euforia revivalista dum feito inolvidável. Nunca se venderam tantos cravos. Nunca se pintaram tantos muros. Sim, ainda há muros. Sim, ainda há censura. Ainda não se cumpre Abril em muitos âmbitos, alguns lamentavelmente oficiais e institucionais.
Neste contexto, há um caso que me parece flagrante e levei-o à última assembleia municipal de Lousada, a 29 de fevereiro. A exemplo do que acontece comumente (Paredes é uma das exceções a essa regra) a transmissão em direto das sessões daquele órgão municipal, através do YouTube, não permite a participação do espectador, do cidadão, do munícipe. É um «toma lá», sem direito a «dá cá». Uma espécie de «vê e ouve», sem direito a «diz lá».
A participação pública está barrada, bloqueada, impedida. E assim se mantém depois da sessão terminar e a gravação ficar disponível para memória futura. Quem acede à gravação encontra a indicação “Os comentários estão desativados”. E clicando em «saber mais» percebe-se que «o proprietário do vídeo selecionou a opção “Desativar comentários”». O pedido para que o Município ativasse essa função, não foi aceite. Até ver. Ainda estamos em Abril. E dia 30 há nova sessão daquele órgão municipal de Lousada.