Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.No Tâmega e Sousa existem vários locais de peregrinação para sustento da fé ou para a fruição turística e cultural. Um desses exemplos situa-se em São João de Folhada, Marco de Canaveses.
Por devoção, curiosidade ou em turismo, todos (ou quase todos) os portugueses, independente de serem católicos ou não, já foram ao Santuário de Fátima, na Cova da Iria, um dos mais importantes locais marianos. Como sabemos, para a sua existência contribuíram as aparições da Virgem Maria aos três Pastorinhos, tendo a primeira aparição acontecido a 13 de maio de 1917.
Sucede que há aparições mais antigas. Uma delas ocorreu 160 anos antes das de Fátima e foi num dos concelhos do Tâmega e Sousa.
A aparição ocorreu na freguesia de São João de Folhada, no concelho de Marco de Canaveses.
Segundo o relato efetuado pelo pároco da paróquia, José Franco Bravo, que foi testemunha do acontecimento, a 13 de maio de 1757, num cabeço da serra da Aboboreira, no lugar do Outeiro do Preiro, pouco tempo antes do pôr do Sol, três crianças que estavam a pastorear as suas ovelhas ouviram uma voz que chamava por cada uma delas pelo seu próprio nome – duas eram Marias e a outra era Teresa. As crianças ficaram admiradas por verem Nossa Senhora naquele local, sendo que brilhava. Ela convidou as meninas a aproximarem-se. Uma delas tocou na sua mão, uma outra tirou-lhe o rosário que trazia ao pescoço, enquanto a mais velha foi repreendida pela Virgem por andar sempre a falar no Demónio! Depois, Nossa Senhora pediu que voltassem para casa e que a todos dissessem para rezar e para jejuar a pão e a água nas primeiras sextas-feiras e sábados de cada mês.
A notícia depressa se espalhou, e muitos fiéis começaram a ir em peregrinação ao local, onde se construiu uma capela e se iniciou o culto a Nossa Senhora da Aparecia. Dito de outra forma, com esta aparição começamos a ter o nosso 13 de Maio!
Todavia, com o tempo, este “13 de Maio” perdeu alguma importância religiosa.
A finalidade deste texto não é sugerir que os peregrinos e os turistas deixem de ir à Cova da Iria. Pretendo, sim, em primeiro lugar, chamar a atenção para uma das mais antigas aparições da Virgem Maria ter sido no nosso território e evidenciar que muitos de nós desconhecemos esta e outras histórias relacionadas com os caminhos de fé no Tâmega e Sousa.
Em segundo lugar, gostaria de chamar a atenção para locais de peregrinação que existem nesta sub-região, que já tiveram fama, mas que agora estão um pouco esquecidos.
Possivelmente, muitos de nós quando temos uma “dor de barriga” – ou seja, quando temos um mal ou problema que queremos resolver – vamos a pé, de carro ou por outro meio, a locais fora do nosso território pedir a ajuda divina. Todavia, se conhecermos um pouco da história religiosa do Tâmega e Sousa, talvez consigamos fazer essa prova de fé mais perto das nossas residências!
Independentemente da questão de fé, o ato de visitarmos estes locais ajudará a conhecer a nossa história e a enriquecermo-nos culturalmente e turisticamente.
Para auxiliar, informo que foi publicada em 2021 a monografia Caminhos de Peregrinação do Tâmega e Sousa, coordenada pelo professor Carlos A. Brochado de Almeida.
Assim, como sugestão de leitura, recomendo essa monografia, editada pela Ader-Sousa – Associação de Desenvolvimento Rural das Terras do Sousa, na qual encontrará os principais caminhos de peregrinação e de romaria no nosso território.