Início » Santo António de Lisboa ou de Pádua? 

Santo António de Lisboa ou de Pádua? 

por Joaquim Luís Costa
Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Não é de nenhuma delas. Como os restantes santos, é de todos nós!

É comum os lisboetas defenderem que Santo António é de Lisboa, como também os paduanos afirmarem que é de Pádua, em Itália. Ambas as cidades têm uma certa razão, porque Lisboa foi a cidade que possivelmente o viu nascer, entre 1191 e 1195, e Pádua foi onde morreu, a 13 de junho de 1231, e onde está sepultado, numa basílica construída para esse propósito. 

Este assunto tem feito correr muita tinta. Até o papa Francisco já se “meteu ao barulho” quando, em 2018, o citou na exortação apostólica Gautede etExsultate como “Santo António de Lisboa”.

Sinceramente, acho esta disputa desnecessária. Mas sabemos as razões – de fé, culturais, de identidade local… – subjacentes ao assunto. E fazemos bem em defendermos algo que nos identifica enquanto comunidade. Contudo, devo lembrar que ninguém nasce e morre do nada, porque todos temos uma história familiar. E é por isso que gostaria de meter a foice em seara alheia para dizer que há um concelho do Tâmega e Sousa que também pode reivindicar alguma legitimidade sobre as origens deste santo. É Castelo de Paiva. Apresento dois motivos.

O primeiro motivo é de ordem familiar. O historiador Rui Pereira realizou um estudo genealógico no qual prova a ligação de Santo António à Terra de Paiva. Segundo o estudo, a freguesia de Sobrado teria sido a terra natal dos ascendentes do santo, a família Bulhões, que, provenientes de França, através da Galícia, foram convidados pelo conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, a instalarem-se neste território.

O segundo motivo é de ordem imaterial, sendo uma lenda, talvez uma das mais belas do Tâmega e Sousa. Resumidamente é a seguinte: 

Em Sobrado, vivia Martim de Bulhões que se enamorou de Maria Taveira. D. Gil, pai de Maria, quis que Martim fosse à guerra antes de se casar com a filha. Martim aceitou, integrando uma cruzada liderada pelo rei D. Sancho I, organizada para conquistar Silves. Mas acabou prisioneiro dos muçulmanos. Após o falecimento do seu pai, Maria começou a ser perseguida por D. Fafes, um cruel homem que com ela queria casar. Entretanto, um padre conseguiu a libertação de Martim, que se apressou a regressar, coincidindo a sua chegada com o dia em que D. Fafes decidiu tomar pela força a bela Maria. Os dois rivais encontraram-se nos Portais da Boavista, envolvendo-se num duelo do qual saiu vitorioso Martim. Em memória desse feito, o vencedor mandou erguer no local a “memória” de D. Fafes que, atualmente, é conhecida por Marmoiral do Sobrado, um dos monumentos da Rota do Românico. Martim e Maria casaram e tiveram um filho, Fernando de Bulhões, que todos nós conhecemos por Santo António, o seu nome religioso.

Perante estes motivos, os paivenses podem, com alguma graça, dizer que se os lisboetas e os paduanos têm Santo António, muito se deve a uma família de Castelo de Paiva. Logo, os paivenses também podem defender que Santo António é de Castelo de Paiva…

Mas, indo ao mais importante: é irrelevante sabermos se é desta ou daquela localidade. O que interessa é sabermos o que representa para as nossas vidas no plano da fé. Deste modo, não é um santo de uma cidade em particular, por muitas festas que se lhe façam. É, acima de tudo, um santo de todos nós ou como disse o papa Leão XIII “É o santo de todo o mundo”.

Como sugestão de leitura, recomendo a monografia Santo António de Lisboa, encontro nas origens: Castelo de Paiva, de Mário Gonçalves Pereira, editada pela Chiado Editora, em 2013, na qual se estuda as origens do santo em Terras de Paiva.

Também poderá gostar de

1 comentário

António Anchas 02/06/2024 - 01:18

Santo António de Coimbra

Do Mosteiro de Santa Cruz ao santuário de Santo António dos Olivais foi em Coimbra que por inspiração mística, vestindo o hábito franciscano, Fernando de Bulhões morre para o mundo, renascido de António.

Nem Lisboa ou Pádua… Santo António dos Olivais, Coimbra.

Responder

Escrever um comentário