
Rafael Ferreira
Professor na área das artes e tecnologias, licenciado em Educação, Comunicação Audiovisual e pós-graduado em Tecnologia Educativa. Apaixonado por cinema, imagem, animação e artes.“A noite fez-se escura…” este podia ser o início de um livro nos inícios do século XX, mas no presente século XXI o início seria mais assim. “Naquela noite fortemente iluminada” pelos candeeiros públicos os insetos rodeavam desorientados aquela imensidão de luz branca tão clara como o sol ao meio-dia. Os pássaros questionavam se já seria hora de dormir ou de levantar. Mas isto seria uma obra de ficção. Seria mesmo?
A verdade é que a tecnologia de iluminação pública e mesmo particular mudou, hoje é possível ter altos valores de luz com pouco gasto energético. No entanto, estamos a agir bem perante a natureza?
A iluminação que até há bem pouco tempo tinha uma cor mais alaranjada passou quase que instantaneamente a branca para não dizer azulada. Pois bem, andamos a utilizar outras temperaturas de cor do que as habituais fornecidas por um vela de cera ou uma lâmpada de filamento de tungsténio. Estas últimas tinham um tom alaranjado como se fosse a cor do romântico sol ao fim do dia a pôr-se e que traz paz ao espírito humano e indica aos ecossistemas que a noite escura está para chegar. Mas o homem deslumbrado com tal capacidade de a iluminação led consumir pouca energia e iluminar mais dotou as redes de iluminação existentes de lâmpadas led de cor branca em vez da conhecida alaranjada que servia para ver, passamos a estar na rua à meia-noite como se de um estúdio de televisão se tratasse.
Curiosamente os smartphones mediante a hora do dia mudam o tom do ecrã, mais branco durante o dia e mais alaranjado durante a noite, porque será? Não vou dar a resposta porque é fácil de entender.
Estamo-nos a afastar da natureza, estamos a poluir luminosamente o ambiente e não sabemos o impacto que isso tem no ser humano e em todos os ecossistemas que nos rodeiam. À noite já não vemos as estrelas, o céu reflete a luz que emitimos da terra, onde andam os saudosos pirilampos que apreciava pelos caminhos que fazia à noite?
E esses tons de luz mais azulados, brancos com os quais agora convivemos, qual a sua influência em nós? No nosso sistema óptico e nervoso principalmente quando somos expostos a eles?
Um jantar a luz de velas cria ambiente, repousa, cria sensações de calma. Não as vou enunciar todas. Agora um jantar romântico com uma luz branca, que sensação daria? Uma lareira a emitir uma luz branca em vez daquela multicor de tons laranja e amarelos que nos prende o olhar e nos fazem dormir uma noite mais tranquila além de despertar sensações de acalmia, conforto e acolhimento?
Não, algo não está bem, há que pensar nas características da luz que nos ilumina dentro das nossas casas, nas ruas que passamos e nos parques que cruzamos.
Conheço pessoas que não conseguem dormir com uma pequena luz, e todos os seres vivos que habitam à noite, o que será deles? E aqueles que esperam a escuridão da noite para levar a sua habitual vida? Estarão confusos? Será que estamos a afastá-los ou até a dizimá-los?
É certo que a luz led branca ilumina mais por menos consumo, mas será assim necessário? Haverá normas? Alguém já terá pensado nisso?

2 comentários
Lisboa vai mudar mudar muita iluminação para LED. Vi o documento, não encontrei nada sobre a temperatura da cor. Na minha aldeia já está tudo a LED, ficou horrível. Tenho vontade de subir um poste e colocar um filtro. Provavelmente ainda apanhava uma multa.
Em muitos locais é mesmo um exagero.. parece que estamos de dia. E mesmo em condução em algumas estradas as “novas” luzes até provocam a ideia da aproximação de um carro e concentram muito a luz, obrigando os olhos a uma contante adaptação.
Eu para mim reduzia a potência das mesmas ou mudava de cor como sugerido e reduzia em muitos locais o número de “postes”.