Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.Chamo a atenção para os grafiteiros terem em consideração as origens desta arte urbana para não cometerem o erro de danificarem património que é de todos.
O grafíti é um dos elementos da cultura Hip-Hop, com origens nas comunidades afro-americanas e latinas de Nova Iorque, na década de 1970. Como sucede com os outros elementos do Hip-Hop (o rap, a mistura de músicas e o breakdance), o grafítipretende promover a união e a paz, partindo da intervenção no espaço urbano através da arte, fornecendo a expressão visual para transmitir mensagens (políticas, sociais, culturais…), sendo normalmente efetuado em muros ou paredes de locais públicos e geralmente com o recurso a tintas líquidas em jato.
Muitos de nós conhecem artistas que são exímios executores desta arte urbana e, certamente, apreciamos o que fazem. Existem, aliás, artistas que começaram no grafíti e depois evoluíram para outras artes. Os trabalhos dos grafiteiros profissionais são de elogiar não só pela sua riqueza visual e pela simbologia da mensagem mas também por, muitas vezes, aproveitarem espaços abandonados, ou degradados, para lhes darem uma nova imagem.
Embora a arte tenha fins pacíficos e o conceito seja nobre, há muitos que se julgam “grafiteiros” e sem conhecer as origens deste movimento consideram que tudo pode ser grafitado.
Deste modo, a par dos grafiteiros profissionais, que sabem onde e como grafitar, sem prejudicar o património em geral, outros existem para os quais o ato de grafitar não significa arte, mas apenas danificar algo no espaço público. Todos nós já vimos comboios, infraestruturas viárias, mobiliário urbano, paredes de edifícios civis e públicos e mesmo património histórico e natural grafitado.
Para o evidenciar, apresento um exemplo que se passa no Parque de Vilar, em Vilar do Torno e Alentém, no concelho de Lousada.
Neste parque – diga-se de passagem, um excelente projeto de intervenção pública e ótimo para caminhar, descansar e/ou confraternizar em família –, é comum os que se dizem “grafiteiros” aplicarem a sua “arte” nas pedras da Torre de Vilar, exemplar medieval de casa fortificada, classificada como Imóvel de Interesse Público em 1978, nos diversos painéis informativos e, até, imagine-se, nas árvores que existem no parque. E quando as entidades públicas limpam o que foi feito, os que se dizem “grafiteiros” voltam a atacar. Já aconteceu algumas vezes.
Este exemplo não se coaduna com a cultura Hip-Hop porque o que fazem é danificar património. Este é um mau exemplo de muitos na nossa sub-região e que também acontece um pouco por todo o Portugal. Quem faz isto não pode ser chamado de grafiteiro porque não está a criar arte.
É preciso chamar a atenção para estas situações porque ao grafitarem transportes públicos, infraestruturas viárias, mobiliário urbano e o património histórico, cultural e natural, estes “artistas” estão a dar uma má imagem do nosso país a quem nos visita, porque pode significar que não valorizamos o que é de todos e estão a contribuir para que continuemos a pagar impostos sobre impostos, porque as instituições públicas, para limpar esses grafítis, gastam dinheiro que é de todos. Adicionalmente, são grafítis de muito mau gosto, pois não se percebe a mensagem que passam e fogem do espírito subjacente ao aparecimento desta arte urbana.
Como sugestão de leitura, sugiro o artigo Descobrindo a Arte Urbana em Portugal: Ruas transformadas em Galerias a Céu Aberto, disponível em www.arteseartes.info, no qual os leitores e os que querem ser grafiteiros, em especial, podem constatar a diferença entre grafítis como arte e grafítis como vandalismo.