
Rafael Ferreira
Professor na área das artes e tecnologias, licenciado em Educação, Comunicação Audiovisual e pós-graduado em Tecnologia Educativa. Apaixonado por cinema, imagem, animação e artes.A arte contemporânea tem sido palco para a reinvenção de materiais e conceitos, e o trabalho de Daniel Lamas destaca-se pela originalidade e impacto visual. Vou apelidá-lo de Van Gogh dos botões, o engenheiro civil que transforma um objeto quotidiano numa forma de expressão artística singular. Desde 2021, tem explorado a justaposição e colagem de botões para criar composições dinâmicas, onde a cor e a textura se unem numa expressão tridimensional de grande intensidade.

A primeira vez que vi pessoalmente as suas obras foi na inauguração da exposição “Botões, para que vos quero”, realizada a 9 de novembro na Loja Interativa de Turismo de Paredes, com curadoria da José Rosinhas Art Gallery Wall. A experiência foi marcante. A energia que emana das suas peças é reminiscente do movimento e da força expressiva de Van Gogh. A maneira como os botões são organizados nas suas obras cria um efeito de fluidez, remetendo para um jogo constante entre luz e sombra, cor e matéria.

Fotografia: Município de Paredes
O percurso de Daniel Lamas revela um compromisso sério com a arte. As suas obras integram coleções particulares e institucionais, estando representadas no Museu Amadeo de Souza-Cardoso (Amarante), no Museu Municipal Armindo Lopes (Mirandela) e no Museu Municipal Marítimo (Ilhavo). A sua trajetória académica e artística inclui formação em Curadoria e Mercados de Arte (Universidade Católica Porto), Ilustração, Serigrafia, Arte Contemporânea e Pintura em Acrílico, além da participação em programas de apoio artístico e exposições internacionais, como a Visual Art Open UK & International Emerging Artist Awards (2022), a II Bienal de Arte Contemporânea de Trás-os-Montes (2024) e a II Bienal Internacional de Arte do Alentejo (2025).

A força do seu trabalho reside na forma como confere tridimensionalidade às suas peças. Inspirado pelas lembranças da infância e pelo contacto com botões na casa da sua avó Camila, em Santa Comba da Vilariça, Daniel Lamas encontrou neste pequeno objeto um meio de expressão artística que desafia as convenções tradicionais. A sua capacidade de transformar um elemento simples em composições vibrantes e emotivas aproxima-o do espírito inovador de Van Gogh. Assim como o mestre holandês transmitia emoções através das pinceladas carregadas de matéria, Daniel Lamas traduz sentimentos e movimento através da disposição dos botões em diferentes camadas e tonalidades.


O reconhecimento que tem vindo a obter confirma o valor do seu trabalho no panorama artístico nacional e internacional. A adesão a associações como a Sociedade Nacional de Belas Artes, Associação de Artistas Visuais de Portugal e Visual Artists Association (UK) só reforça a seriedade do seu percurso. A sua obra representa um olhar contemporâneo sobre a arte matérica, desafiando a perceção convencional do que pode ser considerado pintura e escultura.

O trabalho de Daniel Lamas faz-nos repensar a relação entre forma e matéria. A energia que transmite nas suas criações leva-nos a sentir a expressividade intensa de Van Gogh, transportando-nos para uma atmosfera vibrante e enigmática. O seu percurso continua a crescer, e é inevitável questionarmo-nos: até onde poderá ir este artista, cuja criatividade ressignifica um objeto tão simples como o botão? Uma coisa é certa: o movimento da sua arte já deixou uma marca indiscutível no cenário artístico.
Fotografias ilustrativas da propriedade do autor.