Adão Rocha
Técnico Auxiliar de Saúde, Licenciado em Gerontologia Social, formador e membro ativo na sociedade. Aprecia folclore, atletismo e caminhadas.Portugal é muitas vezes lembrado pela sua história, gastronomia e paisagens, aparece frequentemente como um país tranquilo, simpático e acolhedor, mas a verdade é que, quando comparado com outros países da União Europeia, o retrato é menos notável, sendo por isso uma imagem simplista.
Por baixo do véu, há um país travado pelo cancro da corrupção, que corrói todas as dimensões da vida nacional e impede que Portugal acompanhe os seus vizinhos europeus.
Quando nos referimos à economia e trabalho,Portugal é marcado pela precariedade e pelos salários baixos, tendo em conta que, outros países apostam em inovação, produtividade e qualidade de vida, Portugal arrasta-se em contratos instáveis e empregos mal renumerados, não obstante sermos dos que mais horas trabalhamos em comparação com os restantes parceiros da EU.
Em 2024, os trabalhadores portugueses (2064 anos) trabalharam, em média, 37,5 horas por semana. The Portugal News+2ECO+2. A média da União Europeia (UE) para o mesmo ano e grupo etário foi de 36,0 horas por semana. European Commission+1.
Ou seja, os portugueses trabalham, em média, 1,5 horas por semana a mais do que a média da EU, além disso, 9,2% dos trabalhadores em Portugal fazem 49 horas ou mais por semana, acima da média europeia de 6,6% para esse nível de horas. sol.sapo.pt+2dnoticias.pt+2.
Se tivermos em conta que, somos dos países em termos fiscais que, tem uma incidência de impostos, dos mais elevados, em que a população não vê retorno proporcional. A transparência é mínima, e a sensação de que “uns poucos sempre se safam” enfraquece a confiança na política e no Estado, enquanto países nórdicos utilizam os impostos para criar igualdade e bem-estar, Portugal vê recursos públicos desviados para interesses particulares.
Quanto à educação, a qualidade do ensino em Portugal melhorou claramente nas últimas décadas, com taxas de escolarização elevadas e programas que ampliam o acesso à educação, contudo em comparação com outros países, como o caso da Holanda, Alemanha, e mesmo a Finlândia, ainda temos um bom caminho a percorrer.
O Investimento público, é relativamente baixo, quando comparado com a média da EU, em que o investimento nos países nórdicos e Alemanha, investem muito mais do que nós, garantindo infraestruturas melhor apetrechadas, com melhores condições, sejam ao nível de equipamentos e humanos.
A formação e valorização dos professores é baixa, falta de reconhecimento, em contraste com a maioria dos países europeus, sendo que a falta de investimento, limita o desenvolvimento de tecnologias laboratoriais e recursos pedagógicos avançados.
As desigualdades regionais e sociais, limitam em muito as mesmas condições de acesso à educação, em especial nas zonas do interior, apesar de alguns avanços feitos nesta matéria, a verdade é que o interior não consegue competir com o litoral e com os grandes centros urbanos.
Bem patente esta desigualdade no ensino superior, apesar de termos universidades e politécnicos de renome internacional, o acesso a oportunidades de emprego e mesmo à investigação científica em manifestamente desigual no país, contribuindo para isso o excesso de burocracia ao acesso a programas de financiamento, onde uma vez mais grassa a corrupção.
Quando nos debatemos com os problemas da saúde e justiça, Portugal uma vez mais, deixa muito a desejar, não pelo muito que se conquistou ao nível da saúde, pois o SNS, é a prova real de bem que se fez nesta matéria, o problema tem sido todo um desenrolar de, mas escolhas e más decisões, aliadas a um estado totalmente corrompido, que aos poucos se vai vendendo ao setor privado, que só olha para a saúde como árvore das patacas, e não como um bem universal, em que se vem desinvestindo na saúde primária, basta ver o tempo de espera para obter uma consulta, sendo o único recurso imensas vezes recorrer às urgências hospitalares.
A Justiça tem sido outro cancro, em que o total desinvestimento, só favorece quem tem dinheiro, para prolongar os processos, protegendo deste modo os interesses dos poderosos, deixando o cidadão comum no limbo da justiça, em suma, é impossível falar em qualidade de vida quando as instituições que deveriam proteger os cidadãos estão sistematicamente comprometidas.
Quanto ao ambiente e nas questões sociais, Portugal poderia ser um exemplo, em termos ambientais, como país e pelas condições climatéricas, a nossa sustentabilidade seria um dado adquirido, não fosse o espectro da corrupção, em que obras questionáveis, licenças suspeitas e interesses privados comprometem projetos que deveriam beneficiar todos.
Na esfera social, políticas públicas são desfiguradas por desvios de fundos e prioridades mal definidas. A pobreza persiste, a desigualdade aumenta, e o Estado, em vez de proteger, muitas vezes favorece quem já detém poder económico e político.
Nas dimensões demográficas, habitação e poder de compra, constata-se que, o país envelhece rapidamente, existindo concelhos que por cada 100 jovens temos 500 idosos, os jovens emigram, em especial os com mais formação, procuram oportunidades fora de Portugal.
O poder de compra é baixo, o custo da habitação dispara e políticas de habitação pública são frequentemente mal geridas ou desviadas, enquanto a corrupção no setor imobiliário e fiscal agrava estas injustiças, transformando a vida de famílias comuns em uma luta diária contra estruturas que favorecem uma elite invisível.
Em resumo, podemos afirmar que, Portugal tinha todas as condições para ser um país moderno e prospero, ao nível de outros países Europeus, em especial aqueles a quem nos deveríamos comparar, no entanto enquanto a corrupção for uma realidade, direi quase institucionalizada, em que a mesma continua a alimentar interesses privados, vai continuar a minar e bloquear as decisões e reformas justas para os cidadãos comuns.
O país continuará preso a uma classe de políticos que fazem da mesma um modo de vida, alimentando egos e compadrios, deixando o país numa posição de mediocridade que só interessa a uma restrita elite.
A mudança tem de existir, não apenas por uma questão económica e social, mas também por uma questão moral, sem coragem para enfrentar esta doença estrutural, Portugal continuará sempre atrás dos seus vizinhos europeus, um país de promessas quebradas, oportunidades desperdiçadas e cidadãos cansados de esperar, onde cresce a oportunidade para populistas retirarem dividendos políticos.
Por tudo isto, e em especial no que concerne às questões laborais, não se compreende de todo esta política da ministra do trabalho, que em nada dignifica o trabalhador e muito pelo contrário só potencia uma vez mais o fosso social em que vivemos.
Adão Rocha