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O SNS Não Está a Morrer. Estão a Tentá-lo Matar — E Não Podemos Fingir Que Não Vemos

por Adão Rocha
Adão Rocha opinião Vale do Sousa TV
Adão Rocha
Técnico Auxiliar de Saúde, Licenciado em Gerontologia Social, formador e membro ativo na sociedade. Aprecia folclore, atletismo e caminhadas.

Dizem que o Serviço Nacional de Saúde está moribundo, não está. O SNS está vivo, está pulsante e está de pé, porque milhares de profissionais recusam deixá-lo cair. Respira através destes que, dia após dia, dão sentido ao que significa serviço público: médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos de diagnóstico, assistentes técnicos, assistentes operacionais, profissionais de Serviço Social e tantos outros. Gente que mantém vivo aquilo que a Constituição consagrou como um direito universal — a saúde para todos.

O que está moribundo não é o SNS: é a coragem política de o defender.

O SNS não está a morrer; o que está a ser asfixiado é a visão política que deveria protegê-lo, o que se encontra debilitado não é a estrutura que, tem décadas de história, capacidade instalada e competências, um património humano incomparável, o que lhe falta não é qualidade, é liderança, e é tempo de dizê-lo sem rodeios, o SNS só precisa de uma coisa; que os decisores deixem de o tratar como um negócio, mas sim, o verem como aquilo que realmente é: o maior pilar da nossa democracia social.

A saúde não é uma fonte de lucro, não é moeda de troca, e muito menos uma plataforma de carreira para ninguém, no entanto, continuamos a assistir a cortes absurdos enquanto se desperdiçam milhões em despesas “extra” e em projetos sem um retorno claro, que ninguém consegue explicar.

Como justificar que cidadãos, muitos deles jovens a contribuir para o crescimento demográfico tão desejado, tenham de peregrinar de porta em porta para garantir condições básicas para ter um filho? porque o sistema não tem resposta, e a justificação que lhes dão é um “desvio”. Um desvio? Um desvio de quê? Do dever mais básico de um Estado? O problema não é o SNS, problema é quem o gere como se fosse um fardo.

Temos uma classe política que, demasiadas vezes, se esconde atrás de discursos vazios enquanto prepara o terreno para o privado lucrar onde o público sangra, uma classe que entra pela porta da política e sai pela porta giratória da saúde privada como prémio por anos de gestão duvidosa, nomeiam-se gestores por amizades partidárias, não por competência, quem ousa inovar é afastado, quem denuncia é silenciado.

E depois dizem que o SNS é que está doente.

Doente?

O SNS está doente como está doente qualquer organismo sujeito a agressões prolongadas.

Quem está a provocar essas agressões não é o utente nem o profissional, é a má política, é uma verdade que incomoda e mais incomoda sabendo estes que, o mesmo ainda não caiu porque tem profissionais com fibra, muito mais dos que muitos que se sentam a governá-lo. 

Recusam ser esmagados, recusam desistir. São eles que dão vida ao SNS, mesmo gastando as suas “sete vidas”, mas não podemos continuar a sobreviver à custa do sacrifício eterno de quem está dentro do sistema, a sociedade tem de deixar de ser espectadora e passar a ser protagonista.

É tempo de pôr fim à complacência., é tempo de exigir mudanças reais, de dizer basta a quem trata o SNS como inconveniente e não como pilar da democracia.

Em 2008/9 Islândia, enfrentou crises profundas, com coragem e renovação, mostraram que a mudança é possível, mostraram que, quando um povo se levanta, o sistema muda, que não quiseram serem cúmplices do declínio, Portugal não é menos capaz.

O SNS não é um favor, o SNS é um direito, e os direitos não se negociam, defendem-se, se não o fizermos agora, amanhã poderá ser tarde demais — não para o sistema, mas para todos nós.

O SNS merece o mesmo espírito de transformação, porque enquanto o deixarmos à mercê de quem o tenta desmantelar lentamente, não será o SNS que ficará moribundo, seremos nós, enquanto comunidade, que perderemos o maior instrumento de igualdade que o país já construiu.

Adão Rocha 

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